Em um esporte onde o sucesso é medido em frações de segundos e o talento de um piloto é tão valioso quanto a tecnologia que o impulsiona, Daniel Ricciardo foi por anos a combinação perfeita entre habilidade e personalidade. Antes mesmo da temporada de 2024 chegar ao fim, o mundo da Fórmula 1 se despede de um dos pilotos mais carismáticos e risonhos da sua era. Substituído por Liam Lawson na Visa Cash App RB, Ricciardo deixa a categoria após uma trajetória de altos e baixos.
E que tal dar uma lembrada no que aconteceu com "Honey Badger" de Perth?
Daniel Ricciardo começou a brilhar nos holofotes da Fórmula 1 em 2011, quando estreou pela equipe espanhola HRT. Na época, poucos podiam prever o impacto que aquele jovem piloto teria no esporte assim que entrasse para o clube dos touros.
Um ano depois, ele chega à Scuderia Toro Rosso, uma equipe de propriedade da empresa austríaca de bebidas Red Bull, entre 2012 e 2013. Durante esse período, Danny terminou ambas temporadas fora do top 10 do Campeonato de Pilotos. Apesar disso, a Scuderia mãe tem uma tradição de ficar de olho em jovens pilotos para ocuparem seus assentos.
Era inegável que Daniel Ricciardo tinha um instinto agressivo, era habilidoso, e com um tato afiado para ultrapassagens. Não à toa, ele rapidamente se destacou como uma das grandes promessas da Red Bull.
the GOLDEN ERA
Em 2014, com a saída de Mark Webber, Ricciardo foi promovido à equipe principal da Red Bull, ao lado de ninguém menos que o tetracampeão Sebastian Vettel. Muitos acreditavam que seria um ano de domínio do alemão, mas Ricciardo mudou o cenário.
Foi sua primeira temporada que Ricciardo conquistou suas primeiras três vitórias na Fórmula 1:
GP do Canadá
GP da Hungria
GP da Bélgica
Ricciardo terminou o campeonato de 2014 em terceiro lugar no campeonato de pilotos, atrás apenas dos dominantes carros da Mercedes de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Mais impressionante ainda, ele superou Sebastian Vettel, um feito que poucos esperavam.
Depois de um ano impressionante, as expectativas eram altas para 2015, mas a Red Bull enfrentou um declínio em seu desempenho devido a problemas com seu fornecedor de motores, a Renault. O carro não era competitivo o suficiente para desafiar a Mercedes e, dessa vez, as vitórias escaparam. Embora 2015 não tenha sido um ano de vitórias, ele provou sua capacidade de lutar em condições adversas, garantindo três pódios ao longo da temporada.
SHOEY
Com Vettel saindo da RBR, em 2016, Max Verstappen foi nomeado para ser companheiro de Ricciardo na equipe. Até então, Danny era visto como o primeiro piloto da scuderia de Milton Keynes.
Após um ano “blasé”, a temporada de 2016 trouxe uma melhoria significativa para a Red Bull. Ricciardo conseguiu seu primeiro pódio do ano no GP da Espanha e, mais tarde, obteve sua quarta vitória na Fórmula 1, no GP da Malásia. A corrida ficou marcada por uma falha de motor de Lewis Hamilton, que abriu caminho para um duelo entre Ricciardo e Max Verstappen. Ao final, encerrando um jejum de dois anos sem subir ao lugar mais alto do pódio, Ricciardo venceu o Grande Prêmio e trouxe um momento inesquecível na história da Red Bull e de Ricciardo: o famoso "shoey". Após vencer a corrida em Sepang, Ricciardo celebrou bebendo champanhe de sua sapatilha, criando uma das tradições mais icônicas da Fórmula 1.
No final de 2016, Ricciardo terminou o campeonato em terceiro lugar, sendo um dos grandes nomes da temporada.
Em 2017, com o carro novamente não sendo páreo para a Mercedes e Ferrari, Ricciardo teve que lutar mais do que nunca. Mesmo assim, ele conquistou uma vitória memorável no GP do Azerbaijão, uma corrida caótica em Baku que viu Ricciardo fazer uma das ultrapassagens mais ousadas de sua carreira, superando três carros de uma vez.
Ao longo do ano, Ricciardo subiu ao pódio em nove ocasiões, destacando sua consistência, mesmo quando o carro da Red Bull não era capaz de competir diretamente com os melhores. Ele terminou o campeonato em quinto lugar, enquanto Verstappen começou a emergir como o futuro da equipe.
PERTO DA DECISÃO
O início de 2018 foi promissor para o australiano. No GP da China, ele protagonizou uma das corridas mais impressionantes de sua carreira, saindo de sexto lugar e, com uma série de ultrapassagens implacáveis nas últimas voltas, garantindo sua sexta vitória na F1. Naquela corrida, ele mostrou mais uma vez porque era considerado o "Rei das Ultrapassagens", realizando manobras ousadas em pilotos como Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.
Pouco depois, veio a vitória épica no GP de Mônaco, uma corrida que talvez represente o auge de sua carreira. Dominando desde os treinos até a corrida, Ricciardo enfrentou problemas com a unidade de potência e, mesmo com o carro apresentando menos potência do que o esperado, conseguiu segurar Sebastian Vettel para vencer no circuito mais técnico, lendário e exigente da Fórmula 1.
Mônaco 2018 deveria ter sido o ponto de virada para Ricciardo na Red Bull, mas foi, na verdade, o início do fim. A equipe estava claramente inclinada a apoiar Max Verstappen como seu futuro, e os constantes problemas mecânicos que Ricciardo enfrentou após Mônaco o levaram a tomar uma decisão: deixar a Red Bull ao final da temporada.
Conquistas na Red Bull
Durante sua passagem pela Red Bull Racing, Daniel Ricciardo conquistou:
7 vitórias (Canadá 2014, Hungria 2014, Bélgica 2014, Malásia 2016, Azerbaijão 2017, China 2018, Mônaco 2018)
3 pole positions (Mônaco 2016, México 2018, Mônaco 2018)
29 pódios
3º colocado no campeonato de 2014 e 2016
DAQUI PARA FRENTE FOI SÓ PARA TRÁS
A decisão de deixar a Red Bull para ingressar na Renault em 2019, um movimento que Ricciardo fez buscando um novo desafio e um papel de liderança, não rendeu os frutos que ele esperava. O carro da Renault não era competitivo, e o australiano teve dificuldade em brigar pelas posições de destaque.
Quando Ricciardo assinou com a McLaren para 2021, muitos viram ali a chance de um ressurgimento. A equipe britânica estava em ascensão, e o australiano acreditava que poderia voltar a lutar nas primeiras posições. Seu primeiro ano teve alguns momentos positivos, sendo o mais glorioso sua vitória inesquecível no GP da Itália, em Monza, onde Ricciardo liderou de ponta a ponta — a primeira vitória da McLaren desde 2012.
Porém, essa vitória seria um raro ponto alto em uma fase conturbada. O companheiro de equipe Lando Norris consistentemente superou Ricciardo, tanto em qualificações quanto em corridas. A adaptação ao carro provou ser um desafio maior do que o esperado, e era visível como Daniel estava cercado por uma frustração crescente — e cobranças de todos os lados — . Ao final de 2022, a McLaren tomou a decisão de rescindir seu contrato.
ANO SABÁTICO
Sem um assento para 2023, Ricciardo voltou à Red Bull, mas desta vez como piloto de testes e reserva, ainda esperando por uma chance de voltar ao grid. Essa oportunidade veio mais cedo do que imaginamos, com a saída de Nyck de Vries da AlphaTauri no meio da temporada de 2023. Ricciardo voltou a correr ao lado de Yuki Tsunoda.
Lutando para recuperar sua antiga forma e, eventualmente, lidando com uma lesão que o afastou de algumas corridas, Ricciardo nunca conseguiu retomar o ritmo que um dia o tornou um dos mais admirados no grid.
Sem resultado não dava para conquistar pontuações em campeonatos e levantar a moral com os patrocinadores, foi então que, antes do fim da temporada de 2024, após o Grande Prêmio de Singapura, a equipe VCARB emite a confirmação de Liam Lawson como substituto de Daniel até o fim do ano, encerrando o ciclo de Daniel na Fórmula 1.
A Red Bull sempre será lembrada como o lugar onde Daniel Ricciardo mais se destacou. Ele pode não ter conquistado um título mundial, mas seu legado de ultrapassagens ousadas e vitórias emblemáticas permanecerá na história da Fórmula 1.
Thank you, Honey Badger.
Ótimo resumo!